Maria é o meu nome

Maria, Maria! Estou aqui sentada e oiço chamar por mim. Pensam que não sei, pensam que sou um boneco, um farrapo. Eu sei quem sou, sou a Maria da Agonia nascida 5 de Outubro de 1936, fui professora, ensinei crianças com todo o gosto e desgaste que me é inerente. Agora que preciso de alguém para algumas dificuldades que apresento, deixam-me aqui sozinha neste lar, onde não conheço ninguém, onde me obrigam a acordar sempre à mesma hora e a deitar à hora que eles querem. Aqui que me obrigam a comer o que me dão, que me deixam nauseada com tantos comprimidos que nem sei para que servem, aqui que tenho tanta gente como eu, mas sinto-me gravemente sozinha. De vez em quando lá vem um profissional ou outro que me chama pelo nome, que tenta a todo o custo colher-me um sorriso, e ás vezes um ligeiro toque no ombro ou na mão de um profissional mais consciencioso. O resto olha-me com desprezo quando estou suja, ou trata-me com indiferença porque não quero comer. Maria, Maria! Continuo a ouvir chamar. Ás vezes apetece-me acabar com este fardo, este peso que sou para mim e para os outros. Mas já nem isso sou capaz de fazer. Apetece-me chorar, apetece-me agarrar em tudo e partir, sinto uma raiva dentro de mim, quando chega o fim?! Estou cansada. Só queria sentir o cheiro da relva, da chuva no chão, só queria ver a areia e o barulho do mar uma ultima vez. Maria, Maria! Agora a voz de quem me chama está perto, talvez hoje tenha sorte, sinto uma mão no ombro que me pergunta, então Dona Maria como se sente hoje? Hoje talvez tenha sorte...

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