O meu cancro

Lembro-me como se fosse hoje, o médico fechou a porta consultório, senta-se e diz-me: -"Não tenho boas noticias para lhe dar". As lágrimas começaram imediatamente a descer o rosto , senti um frio e um calor que não era suposto, as mãos suavam, parecia que ia desmaiar. -"É cancro".
O mundo desabou logo ali, fiquei sem reacção, fiquei com um aperto no coração, a luz apagou-se e a minha alma durante muitos dias viveu na mais imperfeita escuridão.
Quando decidi contar o que se passava comigo em casa foi mais uma sessão de choro contínuo, já não aguentava tanto choro, tantos gritos, tantas investigações na internet para saber o que se passava comigo e que filho da puta de bicho morava agora comigo e comia-me as entranhas lentamente. Foi a negação, a resistência, a falta de força para aceitar a sentença. Depois aos poucos e em pequenas doses ganhava alguma força para seguir o caminho da cura e da destruição do corpo. O corpo começou a inchar, o cabelo a cair, parecia outra pessoa. Não me conseguia olhar ao espelho, os vómitos eram constantes, a fraqueza era diária.
Lembro-me como se fosse hoje, tens cancro...