Carta de um professor

Vinte anos a trabalhar como professor, muitas horas em sala de aula a aturar crianças de todo o tipo, com educação, sem educação, mas hoje em dia conta-se pelos dedos os que tem educação. Se algumas pessoas soubessem o que se passa dentro das escolas até fugiam. E se o senhor ministro viesse e acompanhasse a vida dos professores de perto talvez mudasse de opinião, ou talvez pensasse de outra forma. Vinte anos a trabalhar como professor e este ano sou obrigado a ir dar aulas a 250 km de distância da minha casa. Ridículo não é?! Ir e vir é impensável, 500 km por dia, só se fosse louco. Para o ministério devo ser mais um, ou melhor dizendo, menos um, porque nem se importam se já dou aulas desde sempre ou não. Como vou fazer 250 km é o que pergunto? Não se preocupam se tenho carro, se não tenho, não se preocupam com merda nenhuma. Com que ânimo entro dentro de uma sala de aulas? Com que ânimo me vai apetecer ensinar crianças, quando na realidade vou estar afastado da minha família pelo menos 5 dias?! Será que ninguém se lembra disto? Com que dinheiro vou pagar outra casa? Ou vou dormir num quarto com 1 metro quadrado como se tivesse 17 anos? Senhores Ministros tenho 45 anos, idade suficiente para perceber que não percebam patavina do que andam a fazer e nem se preocupam com a situação dos professores. Sinto-me impotente perante tamanha estupidez. Vinte anos deitados ao lixo, para agora me afastarem de quem mais amo, para agora me levarem para outra cidade, e para chegar ao fim do mês e gastar todo o meu dinheiro em aluguer de casas, combustíveis e refeições. A todos vocês um muito obrigado.

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