Cemitério dos pés

Ali naquele buraco escuro, onde ninguém gostava de ir ficava o cemitério dos pés. Um frio medonho entranhava na pele, a neblina era constante e o buraco ia aumentando assim como o tempo. Ali no cemitério dos pés não havia espaço para sentimentos nem luz que iluminasse, ali era lugar de silêncio e reza profunda, tempo de absolvição de perdão aos outros, ali no cemitério dos pés ficavam todos os luxos perdidos, todas as virtudes enterradas e todas as peneiras ensanguentadas, ali ficava tudo o que era a mais. Ali no cemitério dos pés ficava tudo depositado, a vergonha e o embaraço, a fome e o cansaço. Não havia tempo para mais nada, não havia graça nenhuma naquilo. Ali naquele buraco escuro estavam todos os pés que pisaram esta terra, ali no escuro ficavam todos os que viveram depressa e ficaram à espera.

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