Deixa-me ir

Deixa-me ir nessa corrente de azedume, deixa-me ir no sabor da gente que anda como um cardume. Deixa-me ir já sem direcção, sem saber o que é melhor para mim, sem perceber que chegou o meu fim. Deixa-me ir nesta vontade súbita de nada querer, nesta falta de vontade de viver. Deixa-me ir com todos os recados por dar, com todas as feridas abertas à espera de fechar, deixa-me ir porque já nem tenho vontade de falar e todos os diálogos tornam-se facas prontas para me matar.
Deixa-me ir, deixa-me cair, deixa-me no chão pronto para ser pisado, pronto para ser esmagado por qualquer um, deixa-me aqui guardado no silêncio de qualquer um. Deixa-me ir no sabor da dor, na vontade sem vontade de receber amor. Deixa-me ir!