Trago em mim (com Martim Vicente)

Trago em mim o peso do mundo e o peso das historias que nunca contei. Trago em mim a nebulosidade de toda a mente perturbada mal fadada e desengonçada. Trago em mim todos os pecados do maior pecador em vida porque afinal parece que existe mesmo um caminho sem saída. Trago em mim todos os sonhos inacabados, todos os tempos partilhados, todas as vergonhas de beijos mal dados. Trago em mim todos os pesadelos destroçados, todos os desejos recalcados e todo o amor que vos falhei. Trago em mim mil amores que deixei, mil corpos que imaginei num futuro sem fim. Trago em mim todas as imagens que nunca pensei, todos os caminhos que nunca te direi e todas as cartas que em mim encerrei. Trago em mim o desgosto de não conseguir viver mais de não ser diferente do resto dos demais, trago em mim toda a acutilância e raiva escondida, todo o sangue de uma ferida quase esquecida. Trago em mim tantas respostas para vos dar mas sem força para conseguir falar. Trago em mim mil acordes e mil sabores de todo o mar, trago em mim a esperança de um dia saber amar, De um dia ver que o mundo pode ser simples, de um dia ser teu, mas tu minha também. De um dia os meus pecados poderem ser perdoados, não esquecidos, mas realmente perdoados como aquele perdão que “os de Jesus” falam. De um dia encantar alguém só com os meus olhos, ou com o meu sorriso, com um desses jeitos que nos deixam a alma cheia. Serei eu capaz de desejar alguma coisa que não seja minimamente egoísta? Será alguém capaz disso? E se esse alguém for capaz, será feliz com isso? Ou dirá apenas que a felicidade não interessa? A mim interessa-me muito. Se calhar trago em mim mesmo uma carga enorme de egoísmo, mas a seriedade importa. E eu quero ser sério para com o amor. Juro que quero!

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